"Arrumando a Casa"
H.B.B. - Eu acho que uma primeira coisa curiosa que está dando para sentir com relação à poesia marginal é que seus críticos e legitimadores "oficiais" andam demonstrando um certo mal-estar diante do assunto. (...) A que se deve esse novo "cuidado" na praça?
C.A. - (..) O que me parece é que uma parte muito grande da poesia alternativa de hoje tem um valor muito mais sociológico - especialmente pelo agito, pela movimentação que promove - do que literário.
H.B.H. - O importante era exatamente a novidade do texto e a novidade da relação do poeta com a poesia. quando falo em novidade não estou falando do "novo", "ruptura", "invenção" como as várias vanguardas entendiam. A novidade vinha mais da ludicidade e do descompromisso como lema. E aqui leia-se descompromisso com o "acerto", com a dicção nobre, com o alinhamento em escolas, com programas políticos "didáticos", com a poesia com P maiúsculo das academias. O aspecto do jogo, do bom humor, da recuperação da primeira pessoa, do cotidiano. E isso vinha intimamente ligado com a atitude e o comportamento dessa geração que batalhava na linha da antiinstitucionalização latu sensu. A poesia alternativa que se faz hoje parece ter mantido a sugestão da publicação independente - fora das editoras - mas, por outro lado, traz cores e atitudes profundamente acadêmicas e institucionalizadas. Procura o prefaciador legitimamente, tem dossiers particulares de fazer inveja aos melhores portfolios das agências de publicidade, programas e idiossincrasias típicas da política literária do início do século, e, finalmente, um texto - na sua grossa maioria - neoparnasiano e moralista ou "facilmente" populista.
'Os alternativos de hoje ostentam cores e atitudes cada vez mais acadêmicas'
C.A. - A via do comportamento como possibilidade de intervençao crítica parece ter mudado de sentido com essa virada de década. Aliás, mesmo nos 70, o rendimento crítico do discurso calcado sobre o comportamento já não era homogêneo. Havia, por exemplo, o texto marginal que trabalhava o descompromisso num sentido mais crítico e, paralelamente, outro menos ágil, menos inovador, mais "universitário". Nesses casos, a crítica via comportamento não passava de uma repetição fria e descolada de alguns temas e gestos do desbunde. Naquele momento, a simples postura alternativa tinha um sentido crítico mais imediato, já que respondia a um Estado autoritário e com um projeto de modernização violento e excludente. Hoje esta questão do alternativo se tornou bem mais complexa. Vive-se um momento mais matizado de negociações, de institucionalização, o que exige uma desenvoltura que não é pequena. Era mais fácil localizar o inimigo...
H.B.H. - É engraçado, porque o alternativo de mais pique crítico de ontem se desenvolveu no sentido da conquista de mercado. E isso não quer dizer que "se entregaram". Ao contrário, parece que respondem ao movimento atual de "diálogo" (que o diga o Brizola). (...) O que não tenho visto mais é uma preocupação maior com o texto ou com a invenção em termos de atitude crítica. Acho que estou exercendo aquele terrível papel da "censura estética". Mas é por aí mesmo.
HELOISA BUARQUE DE HOLANDA - Jornal do Brasil – Coluna B - 15 de janeiro de 1983
1 Comentários:
oi tudo bem? gostaria de saber se vc pode me indicar algum livro ou livros ou um caminho a seguir para q eu possa me aprofundar no tema da literatura marginal?
marcio_anjo_s@hotmail.com
obrigado
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