Diário de Liv

domingo, julho 06, 2008

Redundância

"Pobres de nós, violenta maioria de miseráveis na bola azul. Pobre de mim, por ser como vocês. Pobres de espírito, pobres de corpo. A plenitude do intrínseco sofrimento ou da famigerada felicidade independe do extrato. Nossa dor nunca é capa do jornal.
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Pobres de nós, redundantes humanos no mundo das provações. Pobres de vocês, por serem como eu. Somando, subtraindo, multiplicando e dividindo pecados com Deus, com o chefe, com o companheiro, com o amigo, com o vizinho, com o caixa do banco. Plenitude de amar sem medida da boca pra fora. Sentimento etéreo recíproco e neutro. Neurologia cromática de baixa saturação. Somos nós, carentes de nós mesmos.
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Pobres de nós, professores insípidos de alunos invisíveis. Aprendizes inoperantes, incorrigíveis e negligentes. Donos da verdade, na idade da razão, no auge da diferença do que se pensa e o que se faz. Quem está disposto a ter um coração maior que si próprio, se avaliar todos os dias ao acordar e ao dormir e agradecer mais do que pedir por menor que tenha sido a caridade para convosco?
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Quem nós pensamos que somos? Mestres na arte de julgar, condenar e punir. Mestres na arte de criar réus e ignorar vítimas. Mestres na arte de fazer e desfazer sonhos, pós-graduados na arte de demolir. Senhores implacáveis dos destinos dos que nos rodeiam em detrimento do duvidoso jogo de interesses que nosso sangue produz?
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Implorar por coragem? Hora de aprender com Deus e ensinar aos homens. Tarefa difícil, inglória e ingrata. Missão que beira o impossível pra um mestre qualquer na ciência nada exata da indulgência.
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Dizem, do alto da redundância, que o pior surdo é aquele que não quer ouvir. Há quem não possa, há quem não consiga e há quem não queira. Quem manda tem a mesma culpa que quem obedece. Quem esconde e se esconde tem a mesma culpa de quem duvida e de quem evita a dúvida. Na falta de algo melhor nunca nos faltará coragem, porque na hora que tudo nos falta, o nada que sobra é encarar o pouco que sobrou de nós."

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