De Manhã...
“Há manhãs assim, cheias de vida e de luz, em que se acorda já de olhos abertos e o coração cheio, se canta Rod Stewart no duche e se dizem coisas com graça. Manhãs onde só há sol e calor, vontade de rir e de dizer disparates, de formular desejos sem pedir nada, de dizer tudo sem falar. Há manhãs que fazem dos dias compridos uma sucessão leve e fácil de horas que correm umas atrás das outras, sem peso nem cansaço, apesar da ressaca, dos olhos inchados, do passo incerto e da memória pródiga em encontrar as chaves do carro e os óculos escuros. São as manhãs em que não nos sentimos donos do mundo, mas de nós mesmos e daquilo que queremos, o que é muito melhor e mais importante, porque são o prenúncio de Dias D.
(…)
Não tem nome este estado de graça, de se sentir a vida a pulsar debaixo da pele e coragem para fazer tudo o que ainda não conseguimos. Não tem nome, nem pode ter, porque é tão forte e tão grande que não cabe num dicionário. Não é paixão porque não dói, nem atracção porque não inquieta. É um quase tudo mas ainda não é nada, porque não houve tempo. E o tempo, que tão sabiamente apaga desejos incendiários e nos resolve dramas de tirar o sono e secar lágrimas, é mais uma vez o nosso maior aliado, de mãos dadas com a euforia que nos enche de graça a existência. Só é preciso não ter pressa, deixar passar o tempo devagarinho e fazer figas para dar certo. (...).”
Dias D, As Crónicas da Margarida, Margarida Rebelo Pinto
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