"ANTÍTESE
O poema me espera, fora de mim,
Para que eu me realize nele.
A sua falta de essência me completa,
E o que nele sobra me extravasa.
Transbordo em seu sinal de menos:
Sua ausência de ser é minha casa.
Sustenho seu corpo, sem mistério.
Adentro seu espaço, sem pegadas.
Encontro-o quando perco o centro.
Menor que a parte, ele não me abarca.
Maior que o todo, ele é meu avesso.
Não é o mundo o que ele me revela.
Não é a mim mesmo que nele procuro.
Não é a poesia o que ele desperta.
Mas o hiato que vai da idéia à fala
Onde o coração bate mais livre.
Mergulhado na matéria mais precária,
Pulsa em nós ao ritmo da estrela
Tanto mais imortal em quanto vive,
Eternidade da luz que se apaga.
Isento da palavra que o aprisiona,
Alheio ao conceito que o mutila,
Imerso em cada coisa que o transcende,
Mergulhado no mundo sem limite.
Vou ao poema, retorno ao nada:
A voz me liberta de minha alma
E assim eu sou o Outro que me habita."
0 Comentários:
Postar um comentário
Assinar Postar comentários [Atom]
<< Página inicial