Medo do Apego!
"Não é de se estranhar o medo do apego em quem já se esborrachou mil vezes pelos trilhos da vida e do tempo. Mas como é difícil não se apegar ou impedir que a nós se apeguem! Pelo menos nas formas superlativas. Como é difícil fingir que ignoramos o olhar suplicante dos carentes de afeto; erigir um muro que impeça a ultrapassagem ao nosso universo mais íntimo e vulnerável; medir o tamanho de um abraço e a temperatura das palavras. Há que se pisar em ovos. Porém, fato é que quem assim se manifesta geralmente tem lá suas razões. Dentre elas, a de não querer abrir caminhos para uma possível dependência emocional - do outro e, por vezes, de si mesmo. Quem opta pelos desapegos, decerto muito já se apegou. E entendeu que de grandes apegos podem vir grandes dores mais adiante. Entendeu que laços, de início suaves, podem se transformar em nós inextricáveis, dissolúveis apenas ao corte brusco da lâmina fria e asséptica da razão. E esse "desapegado", portanto, não haverá de querer que o outro passe a morar em seu universo para ter que sofrer depois, quando descobrir que o melhor é habitar a si próprio, acima de tudo, ainda que numa construção precária. Apego, em princípio, é coisa boa e natural; o problema é que, com o tempo, esse sentimento - que nem sempre tem a ver com amor ou amizade em estado genuíno - tende a convergir para os exageros, e isso não é bom. E não é mais forte ou mais frio aquele que tenta evitá-lo. Muitas vezes o medo do apego carrega o apego do medo à realidade de quem muito sofreu. Medo de perder novamente a si próprio. Medo de ver ou outro se perder em quem, depois de múltiplos açoites, conseguiu se encontrar."
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