Diário de Liv

terça-feira, agosto 01, 2006

...Verdadeiro Pacto...

Encontro
.
"Eles tinham um pacto. Ficariam juntos e se amariam até o fim de suas vidas. Não, o pacto não era bem esse. Eles se amariam para sempre, mas só ficariam juntos até quando desse. Você sabe, até quando rolasse. Chame de química, paixão, entusiasmo, como quiser. Não era bem isso que interessava a eles. O amor era algo tão natural, que nem mesmo precisava ser pensado; estava subtendido, implicitamente partilhado. Assim como era natural e tão simples que estivessem juntos. Como dois amigos de infância que brincam horas um com outro, sem se dar conta da amizade construída naqueles pequenos gestos. Portanto, seria assim: ninguém precisaria dizer nada e suas vidas já estariam entrelaçadas por todo o sempre - período tão curto para um simples mortal, é verdade -, mesmo que separados. Sim, eles sabiam que não poderiam manter a magia por tantos anos além. Eventualmente teriam de casar, ter filhos e tudo o mais. Mas ainda levava tempo para isso. Até lá outras tantas coisas ainda teriam pra viver. E nisso se sabiam não duradouros. Pressentiam o fim, assim como quem antecede uma despedida adiada. O consolo era mesmo as mãos muito próximas, sempre uma oferecendo carinho e aconchego à outra. Um dia, podiam imaginar, aquilo já não seria presente. O restante seriam memórias de um passado recente e um livro na estante com dedicatória e lembrança da tarde em que discutiam uma poesia qualquer do Quintana. Iriam embora os corujões da noite, com as salas vazias dos cinemas, e ficaria o gosto por filmes em preto e branco adquirido ao longo do tempo juntos. Iria embora o sorvete ao pôr-do-sol, mas restaria a música do Caetano que jamais deixaria de ser deles. E onde quer que estivessem, à distância qualquer que se encontrassem, nada, nada mesmo, teria deixado de existir. Ainda que outros ocupassem, em qualquer momento, o lugar que um dia fora de um deles, pouco importaria. O amor, aquele cultivado por tanto tempo, é claro, estaria transformado. Talvez, quem sabe, em algo ainda muito maior. Um sincero desejo de felicidade e uma porta aberta aos conformes do tempo. O pacto selado, o acordo tácito, a aliança ou o laço, chame do que quiser, seria para sempre mantido. Entre eles, nada mais do que um céu azul e a certeza da esperança. Como o sabor agridoce de um romance europeu sem pretensões a finais felizes."
.
Blog Avesso das Palavras - Luisa

0 Comentários:

Postar um comentário

Assinar Postar comentários [Atom]

<< Página inicial