Diário de Liv

segunda-feira, julho 28, 2008

Conhecendo o que há de mais Metrópole em Sampa

Sampa
Caetano Veloso

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Alguma coisa acontece no meu coração... Que só quando cruza a Ipiranga e a Avenida São João. É que quando eu cheguei por aqui eu nada entendi... Da dura poesia concreta de tuas esquinas, da deselegância discreta de tuas meninas... Ainda não havia para mim Rita Lee... A tua mais completa tradução. Alguma coisa acontece no meu coração... Que só quando cruza a Ipirangae a Avenida São João... Quando eu te encarei frente a frente não vi o meu rosto. Chamei de mau gosto o que vi, de mau gosto, mau gosto. É que Narciso acha feio o que não é espelho. E a mente apavora o que ainda não é mesmo velho. Nada do que não era antes quando não somos mutantes... E foste um difícil começo, afasto o que não conheço e quem vende outro sonho, feliz de cidade... Aprende depressa a chamar-te de realidade. Porque és o avesso do avesso do avesso do avesso... Do povo oprimido nas filas, nas vilas, favelas. Da força da grana que ergue e destrói coisas belas. Da feia fumaça que sobe apagando as estrelas. Eu vejo surgir teus poetas de campos e espaços, tuas oficinas de florestas, teus deuses da chuva... Panaméricas de Áfricas utópicas, túmulo do samba, mais possível novo Quilombo de Zumbi... e os novos baianos passeiam na tua garoa... e novos baianos te podem curtir numa boa...
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METRÓPOLE
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No vôo por nuvens escuras senti o barulho... das ruas e praças cobertas por prédios e monumentos velhos... que o passado permanece tão imponente quanto o futuro da sua gente... é o metrô e a velocidade... é o mendigo que te olha mas você não vê... é a cultura pulsando em cada esquina... passarelas de pura literatura!
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E a arquitetura que se confunde com as mais belas criaturas... o olhar nem tão discreto mas marcante como as curvas do concreto... é nesta paisagem urbana que nos sentimos tão admiradas... constantes passagens... encontros casuais entre universos que se intercalam... pelos muros dos museus... pelo submundo dos túneis... pelas padarias... pelos sinais das avenidas!
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Sampa... o que não se compara... no seu cotidiano poético modernista... no gesto educado e viril... nas suas homenagens vivas... nas paisagens duras e de cercas verdes... no seu teatro nordestino... na culinária do ocidente ao oriente... nas ladeiras construídas de época... na pura arte de ser metrópole!
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LVM

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