"Eu sou aquela que, aflita de estrelas, carrega silêncios na pele; morena ou pálida, pequenos sóis, dignos de nota, ou de poesia. Tenho sabedoriazinhas, palavras, lágrimas que alimentam o mar, quando mergulho. Indiferenças, não muito diversas, obscurecem as noites minhas. Mas a noite não traduz as indiferenças que carrego, porque ela é crua e densa, funda e fecunda, cheia de honra. O que eu tenho quando assim é uma sombra de pequenos detalhes, que passam. Meu sorriso de beira de estrada é desabrido, doido, colhido da vertigem de um pássaro. Meu riso, tímido e nu, menina-moça que enrubesce, se obscena. Minha voz é a face apagada da lua num amanhecer, que reflete certo brilho, longínquo. No fosso escuro da noite, flerto com o abismo, e muito lúcida, alucino. Carrego sentidos de elementos primários: minha tarefa desde há muito é sentir o fogo na dança das palavras, a terra, na lavoura do texto. A brisa de correr insufla o ar no mar das letras. Sofro de selva, de doer, de sorrir, de me iludir, de viver: por isso eu vivo. E os meus olhos, esses faróis castanhos de ver mundo, brilham, silenciosamente, nas minhas aflições. Por isso seis bilhões de solidões, aflitas e humanas estrelas, conversam, existem comigo, por isso alimentam meu mar; eu, que sou aquela que, sem saber muito bem por que, ou até quando."
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