Diário de Liv

quinta-feira, abril 27, 2006

Armário Afetivo!

"Meu armário afetivo está abarrotado de palavras não-ditas. É um guarda-sentimento. Tem emoção pendurada em cabide, tem desejo dobrado, tem interesse amassado no fundo de uma sacola. Se tento abrir suas portas, ele me arremessa covardias, que pra disfarçar, chamo de bom-senso. É que ambos estão na mesma gaveta, e têm quase a mesma cor. E se tem dia que planejo jogar tudo fora, tem noite que eu não durmo, revirando pensamentos guardados. Quando quero me vestir, sei que vou encontrar expectativas gastas, romances que não cabem em mim. O melhor era andar nua, eu sei. Alma não se esconde, ao menos em tese, como um corpo que se guarda atrás de panos intermináveis. Mas o fato é que ela às vezes se encontra tão colada ao corpo, que dele lhe absorve as vergonhas, típicas de vontades recolhidas. A alma não é assim tão pura como se idealiza. Devia andar nua, sim, não por ser desprovida de sexo, quais anjos fictícios, mas porque não reprime contradições. É nosso espelho mais fiel, reflete o que não podemos evitar ou conter - vai ver por isso suas janelas são os olhos. Guardo todos os dias retalhos de minhas descrenças e esperanças. Valorizo cada ilusão que me agasalha, cada verdade que me desnuda. Já não há mais espaço. É tanta lembrança-entulho, quereres que não estreei. Tão egoísta quanto um monopolizador de riquezas, eu não dôo minhas peças. Tão órfã quanto qualquer abandonado, aceito, sem reclamar, o pouco e o muito que me dão."

Roberta Tostes

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