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Estranha esta retomada de planos que nunca chegaram a ser, nunca foram, nem sequer serão. Mas quando encaro reflexo do espelho, percebo nos meus olhos a vontade. Mesmo que improdutiva, incapaz. Ela está lá. O desejo latente da mudança que nunca, nunca. A menina de ontem e a mulher de hoje se confundem e muitas vezes a menina toma as rédeas, e diz a que veio. A mulher, se esconde no armário, atrás da porta, atrás do medo. Como - e quando - foi que a garotinha brava e corajosa transformou-se na mulher insegura e cheia de medos? Quando foi que desisti de arrancar a última folha do calendário, encerrar o ano - mais uma etapa, e preparar-me para o novo, o desconhecido? Onde foi que a graça se perdeu de mim? Ou terei sido eu a perder-me dela? Tenho tanta vontade do novo quanto tenho de permanecer assim, como estou. Estática, estagnada. Sim, tenho medo que apodreçam-me os sonhos. Mais medo ainda, tenho de encarar a realidade dura de uma vida vazia. Não tem graça! Mas eu sempre encontro uma forma de mostrar a alguém aqui e ali que ela existe: a tal da graça. Só não sei porquê ela se foi de mim. Este é, quem sabe, um epílogo. A página virada, o ponto final. Ou quem sabe o prólogo, a promessa ainda que tardia de uma nova história, de um sem número de capítulos e páginas incontáveis que me separam do fim."
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