Diário de Liv

quinta-feira, fevereiro 08, 2007

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"Viagem
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Aparelhei o barco da ilusão
e reforcei a fé de marinheiro.
Era longe o meu sonho, e traiçoeiro o mar...
(Só nos é concedida esta vida que temos;
E é nela que é preciso procurar
O velho paraíso que perdemos).
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Prestes, larguei a vela
E disse adeus ao cais, à paz tolhida.
Desmedida, a revolta imensidão
Transforma dia a dia a embarcação
Numa errante e alada sepultura...
Mas corto as ondas sem desanimar.
Em qualquer aventura,
O que importa é partir, não é chegar."
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Miguel Torga - 1962
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.CALMARIA ...
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"As danças vieram e as pressas trouxeram estes ciclones que me preenchem a existência. Enquanto apanho os estilhaços constantes, construo ao mesmo tempo, sobre as cinzas ainda quentes, castelos de sonhos e anseios. E quando os céus me concedem uns minutos a sós com a minha consciência, é inevitável não perguntar: ao andarmos ocupados vivemos mais? Por outro lado, quando a calmaria persiste, não nos sentimos inúteis, sem rumo? Devemos correr atrás da vida ou passar-lhe ao lado? Como estaremos a aproveitar mais o tempo que nos foi concedido? (...)"

quarta-feira, fevereiro 07, 2007

PALHAÇO
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“Mudei o meu rosto, bebi o desgosto
Troquei de cidade pra não ter saudades
Desfiz o passado, pedaço a pedaço
Limpei do meu corpo teus dedos marcados
Que tu me deixaste
Arranquei teu nome de dentro do peito
E assim esse peso tornou-se tão leve
Montei outro palco, abri as cortinas
E então lhes confesso que nada eu lhes peço
O ingresso é de graça, não quero aplausos
Atrás do disfarce eu choro calado
E depois de tudo apenas preciso
Voltar ao cenário.”
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"Sem título, sem graça
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Estranha esta retomada de planos que nunca chegaram a ser, nunca foram, nem sequer serão. Mas quando encaro reflexo do espelho, percebo nos meus olhos a vontade. Mesmo que improdutiva, incapaz. Ela está lá. O desejo latente da mudança que nunca, nunca. A menina de ontem e a mulher de hoje se confundem e muitas vezes a menina toma as rédeas, e diz a que veio. A mulher, se esconde no armário, atrás da porta, atrás do medo. Como - e quando - foi que a garotinha brava e corajosa transformou-se na mulher insegura e cheia de medos? Quando foi que desisti de arrancar a última folha do calendário, encerrar o ano - mais uma etapa, e preparar-me para o novo, o desconhecido? Onde foi que a graça se perdeu de mim? Ou terei sido eu a perder-me dela? Tenho tanta vontade do novo quanto tenho de permanecer assim, como estou. Estática, estagnada. Sim, tenho medo que apodreçam-me os sonhos. Mais medo ainda, tenho de encarar a realidade dura de uma vida vazia. Não tem graça! Mas eu sempre encontro uma forma de mostrar a alguém aqui e ali que ela existe: a tal da graça. Só não sei porquê ela se foi de mim. Este é, quem sabe, um epílogo. A página virada, o ponto final. Ou quem sabe o prólogo, a promessa ainda que tardia de uma nova história, de um sem número de capítulos e páginas incontáveis que me separam do fim
."

sábado, fevereiro 03, 2007

Privacidade!

Por muitos anos foi apenas um desejo.... sonhando com os detalhes.... imaginando cada passo... do que eu acreditei ser minha autonomia, liberdade alforriada, minha maior realização: morar sozinha!!!!!!!!!!!! Hoje compreendo que não adiantava ser precoce... eu precisava ser independente!!!!!!!!!!
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Pode ser que, por enquanto, certas experiências não possam ser vividas!!!!!!! Morar sozinha implica abrir mão de muitas seguranças para com você e mais ninguém. Implica não dividir sonhos e nem pesadelos, nem as contas e nem a intimidade. Por que entre as vantagens não se inclui um duplo cotidiano, apenas a maior das privacidades!!!!!!
LVM
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O MUNDO ANDA TÃO COMPLICADO
Renato Russo
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Gosto de ver você dormir que nem criança com a boca aberta. O telefone chega sexta-feira. Aperta o passo, por causa da garoa. Me empresta um par de meias, a gente chega na sessão das dez. Hoje eu acordo ao meio-dia, amanhã é sua vez;
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Vem cá meu bem, que é bom lhe ver, o mundo anda tão complicado que hoje eu quero fazer tudo por você;
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Temos que consertar o despertador e separar todas as ferramentas. A mudança grande chegou com o fogão e a geladeira e a televisão. Não precisamos dormir no chão. Até que é bom, mas a cama chegou na terça e na quinta chegou o som;
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Sempre faço mil coisas ao mesmo tempo e até que é fácil acostumar-se com meu jeito. Agora que temos nossa casa é a chave o que sempre esqueço;
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Vamos chamar nossos amigos, a gente faz uma feijoada, esquece um pouco do trabalho e fica de bate-papo. Temos a semana inteira pela frente. Você me conta como foi seu dia e a gente diz um pro outro: "- Estou com sono, vamos dormir!";
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(...) Quero ouvir uma canção de amor que fale da minha situação, de quem deixou a segurança do seu mundo por amor. Por amor
.”

sexta-feira, fevereiro 02, 2007

Oração da segunda chance
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Que eu possa, meu Deus, reandar
Reviver imensamente o dia comum
Redescobri-lo único, e estendê-lo
Pela noite sem brilho que brilhava
E eu não sabia...
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Juntar cada caco do vaso do tempo
Do meu mundo de menino
Derrubado pela fase nova
Que nunca aconteceu
Como eu queria...
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Que eu possa meu Deus, reviver
A alegria de qualquer coisa
De qualquer dia
De qualquer hora
Mas agora...
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Sentir-me dono do meu caminho
E não vendê-lo para o homem modelo
Mas fechá-lo nas mãos
E diuturno me chamar
Para vivê-lo...

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Marco Antônio de Paula Franco

quinta-feira, fevereiro 01, 2007

Necessária embriaguez!

"É necessário estar sempre bêbado. Tudo se reduz a isso; eis o único problema. Para não sentirdes o fardo horrível do Tempo, que vos abate e vos faz pender para a terra, é preciso que vos embriagueis sem cessar. Mas de quê? De vinho, de poesia ou de virtude, como achardes melhor. Contanto que vos embriagueis. E, se algumas vezes, nos degraus de um palácio, na verde relva de um fosso, na desolada solidão do vosso quarto, despertardes, com a embriaguez já atenuada ou desaparecida, perguntai ao vento, à vaga, à estrela, ao pássaro, ao relógio, a tudo o que foge, a tudo o que geme, a tudo o que rola, a tudo o que canta, a tudo o que fala, perguntai-lhes que horas são; e o vento, e a vaga, e a estrela, e o pássaro, e o relógio, hão de vos responder: - É a hora da embriaguez! Para não serdes os martirizados escravos do Tempo, embriagai-vos; embriagai-vos sem tréguas! De vinho, de poesia ou de virtude, como achardes melhor."
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Charles Baudelaire