Time after Time
http://incorrespondencias.blogspot.com/2010_03_01_archive.html
"À distância
Meus olhos ficam vagos se não veem
o rasgo de um sorriso que me dês.
Nas mãos o tato sofre por desdém
a tudo que não seja a tua tez.
A boca ressequida é uma refém
da sanha de beijar-te uma outra vez.
No peito há um coração em vai-e-vem,
que oscila entre razão e insensatez.
O espírito reclama e o corpo anseia;
o sangue ferve e queima em cada veia;
e tudo porque é longe a tua estância.
Saudade me enredou em sua teia
e aqui é tua ausência que campeia.
Sou teu, já que me tens mesmo à distância."
Obed de Faria Jr
http://obed.zip.net/arch2010-01-24_2010-01-30.html
"O Meu Sim… (quem escuta o meu sim? Eu escuto?). Pra mim, sempre foi mais fácil ser difícil: é, eu (sempre) disse “não”. Pra mim, O Meu Sim sempre evocou o adeus, as despedidas anônimas, a próxima parada (e onde é que vai dar, onde é que vai dar?). O Meu Sim tem o mais duro — mas também o mais belo — dos recados. Entre tantas outras lições, é a que eu mais quis e teimei em aprender. O Meu Sim é irmã gêmea de Correndo Atrás. Em ambos os casos, o desafio é acelerar, avançar os sinais em curvas perigosas sem poder olhar pelo retrovisor. O passado é uma sucessão de fragmentos, imagens estremecidas que vão se sucedendo, embaralhando a retina, a memória… até que chega um momento em que a gente não sabe mais o que uma coisa tem a ver com a outra. Em mim, o efeito não é de confusão mental — eu nunca me preocupei demais ou por muito tempo em descobrir o elo entre as coisas. Esse desapego é antes uma espécie de auto condenação (ou meu salva-vidas) a um estado reincidente de busca por liberdade emocional… O passado… eu não sei fazer as pazes com ele. Esse sujeito é arquivado, sim. Nessa cidade, senhores, não cabe saudade. O Meu Sim é a promessa de vida a partir dos escombros do que já passou."
Julio F - http://www.marinalima.com.br/blog/hold-on-its-a-matter-of-time/
"O maior presente que alguém pode dar para outra pessoa é a sua inteireza. Quando estamos inteiros, coloridos estamos. Quando estamos coloridos, pincel nos tornamos sobre a pele dos que padecem em eterno ocre. Não existe beleza maior do que a bem-aventurança de estar inteiro. Mas é preciso coragem para assim ser, porque toda inteireza nasce de uma espuma chamada “risco”. Estar inteiro é se abandonar o tempo todo para que a possibilidade nos engravide de sonhos. Está inteiro quem não sabe para onde ir, mas mesmo assim, vai. Está inteiro quem ri sem motivo, quem reconhece o glacê sobre as horas, quem não se apavora diante de um dia feio. Para ser inteiro é preciso um bocado de loucura, também, afinal, o mundo é feito de partes e o diferente sempre padece no paraíso perdido da ausência de reflexo. Para ser inteiro é preciso ser amante! Amante de si mesmo, da obra que escreve, da peça que apaga. É preciso ser amante de quem atravessa o caminho ou simplesmente aparece para partilhar insônias. É preciso ser amante de alguém escolhido, do próprio amor, do caminho. Para ser inteiro é preciso saber dizer “não”. Não para as sobras, rimas pobres, sanguessugas, dobras. Aquele que está inteiro não precisa fingir que inteiro é ecoando sim, sim, sim... Se sabe inteiro e não precisa que ninguém torne real sua “inteiridão”. Ser inteiro é o melhor presente que podemos dar a alguém, pois não há nada melhor do que o reflexo da inteireza perdida na pupila de quem nos mira."